sábado, 26 de junho de 2010

Recordar e Viver (VIII)


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A queda do sistema
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Cresci a ouvir histórias fantásticas do F. C. Barreirense, relatadas pelo meu pai. Muitas vezes, um dos herói desses relatos era o “Zé Toupeira”, sete palmos de gente, com um poder de elevação extraordinário, que conseguia, com a cabeça tirar a bola das mãos do gigante “Roquete”, guarda -redes internacional do “Casa- Pia”.
Sempre que havia futebol, lá ia eu com o meu pai. Recordo-me de uma tarde especial, passada no campo D. Manuel de Melo, que estava completamente cheio.
O desafio era entre o F. C. Barreirense e o Sport Lisboa e Benfica. Em todo o campo imperava o vermelho das inúmeras bandeiras do clube adversário, saudando a sua equipa que ia apresentar um novo sistema futebolístico, uma nova táctica. Segundo os entendidos na altura, a táctica era chamava-se “diagonal”. Esta táctica iria permitir ao clube da Luz ultrapassar todos os obstáculos, conquistando assim, com alguma facilidade, mais um campeonato nacional. O grande obreiro deste sistema era o treinador Otto Glória, que escolheu o nosso clube para cobaia. O sentimento existente nas bancadas, pelos sócios do F. C. Barreirense, era de grande apreensão, pois temiam uma derrota demasiado pesada.
Através dos altifalantes do campo, faz-se a apresentação da equipa do Benfica, debaixo de uma ovação estrondosa, seguindo-se a apresentação da equipa do F. C. Barreirense, que era o seu “onze” habitual e onde pontificavam jogadores como Francisco Silva, Ricardo Vale, Zeca Ferreira, entre outros, tendo como fundo a melodia do filme “A Chave”, que funcionava como um hino para os alvi-rubros. Os adeptos do Benfica estavam eufóricos e convictos de que a vitória não iria fugir. O jogo praticamente não teve história. O Barreirense, sem “diagonal”, foi durante todo o jogo, a melhor equipa. Zeca Ferreira foi o herói do jogo, marcando 3 golos, perante o desespero dos benfiquistas que não conseguiram marcar nada, tendo o resultado sido 3-0 a favor do Barreirense.
Desnecessário será dizer que nunca mais se ouviu falar da “diagonal”. No futebol não existem tácticas infalíveis, bastando para tanto a vontade, o rigor e a determinação, que são muitas vezes suficientes para derrubar gigantes e os mais diferentes sistemas.
Nessa tarde, o F. C. Barreirense escreveria mais uma página do seu rico historial.
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José Henrique Pina
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[Texto publicado no JORNAL DO BARREIRO de 25 de Junho de 2010, coluna Recordar e Viver]
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Um novo guião para o Século XXI



Confesso, sou um optimista!
Digo-o desde já para alertar que este texto não é um carpir de mágoas ou lembrar como antigamente “é que era”. Vejo neste segundo século de vida do Barreirense a oportunidade do clube renascer e se reafirmar como uma organização central na vida da nossa cidade, deixando para trás hábitos e costumes que fizeram parte do nosso quotidiano do século que agora vira. Porque a nossa cidade mudou, porque o nosso país mudou, porque o nosso Planeta mudou. Nós também temos que mudar!
Faço a mim próprio com uma grande regularidade quatro perguntas que aprendi serem importantes para aferir se nos mantemos competitivos na nossa área de actuação. (i) Preciso de justificar a minha acção para que outros percebam o valor que trago com o meu contributo? (ii) Continuo a querer relacionar-me com outros parceiros neste novo século da mesma forma que o fazia no século passado? (iii) Acredito que a sociedade mudou e as pessoas mantiveram os mesmos hábitos? Como me adapto? (iv) Estou a criar valor com a minha acção ou simplesmente existo?
Acredito que o FCB necessita igualmente de perguntar se realmente se adaptou a este novo século ou se continua a utilizar velhos hábitos numa nova sociedade. Necessita de saber como as necessidades da população que serve evoluíram e o que se espera que um clube como o nosso possa oferecer. Perceber o que nos distingue de toda a concorrência. Fornecer o que temos de melhor em troca do que as pessoas têm para dar, criando bases para que todos possam ganhar nesta relação. E numa era de desemprego e incerteza quanto ao futuro não é líquido que o que as pessoas têm para dar seja aquilo que lhes é pedido. Precisamos cada vez mais de conhecer quem são os Barreirenses, de que gostam, o que fazem, que serviços lhes poderemos prestar para lhes proporcionar uma melhor qualidade de vida, que valor lhes acrescentamos por serem nossos sócios e por fazerem parte da nossa família.
Há a crença nas tendências de mercado para este século de que uma parte considerável de serviços prestados às pessoas terão que ser grátis para que as receitas aumentem nas organizações. Confuso? Apenas se continuarmos a glorificar o Euro como desígnio máximo da nossa actuação.
Temos urgentemente que redefinir o guião do clube neste seu novo século para que a sua máxima riqueza seja o de ser capaz de chamar a si o recurso mais importante de todos: o Humano. Voltemos a acolher nos nossos braços e dentro da nossa família o maior número possível de pessoas. Pediremos em troca o que tiverem para contribuir. Sejamos capazes de criar modelos de participação gratuitos e um regime de prestação de serviços integrado que vá de encontro às expectativas das pessoas. Sejamos um clube de pessoas para (cada vez mais) pessoas de modo a cultivarmos relações mais fortes, um pensamento mais plural e uma base tão alargada que não pode ser ignorada. Entendamos a nossa força!
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Frederico Rosa
Membro da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário
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[texto publicado no jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Recordar e Viver (VII)


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Espoliado
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Decorria a época de 1982/83 e o Barreirense disputava o Campeonato Nacional da I Divisão com uma das mais poderosas equipas de sempre. Na 2ª Fase da competição, a partir da qual se verificou o regresso de Adilson Nascimento e se estreou o internacional brasileiro Marcelo Vido, o Barreirense apenas perdeu um jogo, na Luz, tendo passeado a sua classe de uma forma bastante concludente. Nesta fase ficaram apuradas as quatro equipas que iriam disputar a Final Four, a duas voltas, no Pavilhão das Antas, no Porto e que foram o Barreirense, o Benfica, o Queluz e o Porto .

Na primeira volta desta Final Four, na qual o Barreirense não esteve nada bem, os resultados foram os seguintes; 1ª jornada- Benfica x Barreirense, 65/86 e Porto x Queluz, 81/70. 2ª jornada- Barreirense x Queluz, 95/97 e Porto x Benfica, 89/80. 3ª jornada – Porto x Barreirense, 61/52 e Benfica x Queluz, 87/82. O título parecia que fugir aos alvi-rubros. Na segunda volta foram os seguintes os desfechos: 1ª jornada- Barreirense x Benfica, 72/69 e Porto x Queluz,91/72. 2ª jornada- Barreirense x Queluz, 85/78 e Benfica x Porto, 77/70. Face a estes resultados, o Barreirense, para ser campeão, teria que vencer o Porto por 10 pontos. Criou-se, à volta deste jogo, um clima de intimidação, dirigido por um grupo perfeitamente organizado, para com a equipa barreirense e dos seus adeptos e, mesmo antes do jogo se iniciar, começaram as provocações tanto a uma como a outros. No entanto, o Barreirense começou bem o jogo, que estava ser televisionado, e chegou a 8-0 e 10-2, sobressaindo a extrema serenidade de Adilson, fruto da sua grande experiência e da sua enorme qualidade como jogador. O jogo continuou muito equilibrado e atingiu-se o intervalo com a vantagem mínima para a turma alvi-rubra (29/28). Na segunda parte, e após 29 segundos do seu reinício, o Barreirense decidiu abandonar o campo. A chuva de líquidos, entre os quais urina (!) e outros variados objectos eram atirados impiedosamente para o banco do Barreirense, impedindo que a equipa tivesse a serenidade suficiente e vivendo-se um autêntico clima de terror, situação esta que se estendia aos adeptos do clube, acompanhantes e familiares dos jogadores. Tudo isto se passava com a absoluta indiferença da dupla de arbitragem, constituída por José Araújo e Álvaro Martins, que não teve a coragem para considerar que não não haviam as mínimas condições para a realização de um jogo de basquetebol, dos dirigentes federativos e do próprio F. C. Porto presentes e das autoridades, impedindo assim o Barreirense de lutar, dentro de campo, pelo título. Face a todo este cenário, os responsáveis do Barreirense decidiram-se pelo abandono do campo de jogo, após o que os dirigentes da Federação Portuguesa de Basquetebol decidiram, de imediato, atribuir o título ao F. C. Porto, sem que tivessem tentado sequer modificar este autêntico estado de sítio que se vivia dentro e fora do campo.
Na semana seguinte o Barreirense promoveu uma conferência de imprensa, à qual se associou o Benfica, o Queluz, a Câmara Municipal do Barreiro e a Associação de Basquetebol de Setúbal. Pelo clube estiveram o dirigente Luís Xavier e os treinadores Manuel Fernandes e Eduardo Quaresma, tendo sido relatados exaustivamente todos os acontecimentos verificados.
Resta apenas lembrar que a equipa era constituída por Eugénio Silva, Mike Plowden, Adilson Nascimento, Marcelo Vido, António Coelho, José Carlos Coelho, Jorge Ramos, Orlando Hemriques, Pedro Afonso, Batista, Joaquim Saiote, João Moura, Sebastião e António Minhava. Os treinadores eram Manuel Fernandes e Eduardo Quaresma e os dirigentes Luís Xavier e Francisco José (Xico Zé).
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José Seixo
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(Texto publicado no JORNAL DO BARREIRO de 18 de Junho de 2010, coluna Recordar e Viver)
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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Navegantes


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A Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do Futebol Clube Barreirense deseja as maiores felicidades à delegação portuguesa presente na África do Sul onde a partir de amanhã decorrerá mais uma edição do Campeonato Mundial de Futebol.
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O futebol ao ataque


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Prossegue a preparação de múltiplas actividades - desportivas, lúdicas, comunicacionais e culturais - a integrar nas Comemorações do Centenário.
O grupo de trabalho responsável pelo futebol, coordenado pelo Dr. João Paulo Prates - membro da Comissão Executiva - tem estado particularmente activo, facto que voltámos a documentar na reunião de trabalho decorrida na passada noite de dia 8 de Junho.
Depois do sucesso do Torneio Centenário FC Barreirense - 25 Abril de 2010, evento organizado pela Academia de Futebol Infantil do FC Barreirense, perspectiva-se no curto prazo a realização da 1ª Edição do Campo de Férias da Academia de Futebol Infantil do FC Barreirense (consulte em http://www.campodeferiasfcbarreirense.blogspot.com).
A equipa de veteranos está já "no terreno" e em Setembro decorrerá um excitante encontro entre as "velhas guardas" do nosso clube e do Sport Lisboa e Benfica, estando previstos desafios com outras qualificadas equipas.
O Forum do Centenário / Futebol está em fase de cuidadosa e atempada preparação. Decorrerá no Auditório da Biblioteca Municipal na noite de 11 de Março de 2011.
Para a melhor concretização de alguns eventos todos ansiamos pela próxima construção do Estádio da Verderena. Que venha rápido!
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Paulo Calhau
[Presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário]
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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Recordar e Viver (VI)


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Um Título muito saboroso

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Estou afastado do Barreiro praticamente desde 1981, mas vivo o dia a dia do Barreirense, um clube que nunca esqueço e que muito amo, procurando, quer por intermédio de amigos que atempadamente me informam, quer através do site do clube que consulto quase constantemente através da net.
Sei que muitos dos que a esta tarefa vão meter ombros, irão decerto relembrar subidas de divisão no futebol que foram muitas e outras coisas relacionadas com o desporto-rei, do tempo em que o Barreirense dava cartas por ter sido em anos passados um quase inesgotável alfobre de jogadores.
Vou então contar algumas “coisas” sobre um título nacional de juniores de basquetebol masculinos que obtivemos em 1977.
O campeonato em causa comportava 8 equipas, quatro do norte e quatro do sul e que eram: Académica, Galitos de Aveiro, Vilanovense e Académico do Porto, em representação do norte e Barreirense, Benfica, Atlético e Sporting em representação do sul.
O campeonato comportava duas voltas de todos contra todos, totalizando um total de catorze jogos. O Barreirense obteve 11 vitórias, só saindo derrotado em Coimbra, Vila Nova de Gaia e Porto.
Em Lisboa ganhou ao Benfica por 10 pontos, ao Sporting por 27 pontos, equipa onde já então pontificava um jogador chamado Carlos Lisboa e na Tapadinha, ao Atlético, por 4 pontos, onde jogava o Artur Leiria que mais tarde viria a ser nosso atleta sénior.
O jogo da Tapadinha com o Atlético, no final da primeira volta, foi o jogo chave por tudo o que se passou dentro e fora das quatro linhas. As coisas azedaram para os lados de Alcântara no momento em que o Barreirense ganhava por 23-12, ainda na primeira parte.
Após a provocação, emergiu um momento amargo e triste de pancadaria e a malta do Barreiro, presente em grande número, tratou de se defender.
O jogo esteve interrompido e foi pedido reforço policial, mas para grande espanto nosso, o reforço de polícia quando chegou, em vez de ir tomar conta dos prevaricadores de Alcântara, veio vigiar o pessoal do Barreiro, postando-se em frente à nossa bancada.
O que é certo é que, quando as coisas acalmaram, o Atlético já vencia por 26-23. Por outras palavras, enquanto a “batalha” durou, o Atlético marcou 14 pontos e o Barreirense nenhum ponto. Sintomático!
Entretanto o Barreirense foi aguentando o jogo com o base principal no banco e, quando este reentrou, deu a volta ao jogo nos últimos momentos da partida e vencemos com todo o mérito por 4 pontos, terminando a primeira volta com 7 jogos e sete vitórias.
Na última jornada, com o Atlético em casa, o Ginásio foi pequeno. Grande exibição e o Atlético foi cilindrado com 31 pontos de diferença e maior foi a festa no final, com a celebração de um título mesmo muito saboroso.
Desta equipa campeã faziam parte, entre outros que já não me lembro, os irmãos Freire, o Carlos e o Paulo, o Manuel Mota, o João Moura e o Jorge Ramos. Aos que o tempo apagou da minha memória, reitero o meu pedido de desculpas.
Dou assim por terminada esta bonita história Barreirense, descrita à minha maneira, e a qual vivi intensamente.
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José Guerreiro
Oiã
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(Texto publicado no JORNAL DO BARREIRO de 28 de Maio de 2010, coluna Recordar e Viver)
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