segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Recordar e Viver (XIX)


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O Barreirense nas meias-finais da Taça de Portugal em futebol
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Depois de na época de 1952/53 o Barreirense ter chegado pela primeira vez a uma meia-final da Taça de Portugal, com o Benfica, tendo sido eliminado, voltaria, na época de 1956/57, a repetir esse feito histórico ao atingir também as meias-finais da Taça de Portugal.
Contudo, e apesar de ter atingido uma posição que alguns clubes de nomeada não conseguiram, os alvi-rubros não foram felizes no sorteio, pois voltariam a ter que defrontar mais uma vez o Benfica, que havia vencido o Campeonato Nacional. Os outros dois meio-finalistas eram o Vitória de Setúbal e o Covilhã.
Pairava no seio dos adeptos barreirenses a ideia de que só com um milagre o Barreirense poderia estar na Final, até porque a eliminatória se decidia em dois jogos com o segundo a ser disputado no terreno das “águias”.
Mesmo tendo em conta a grande diferença de valores entre os dois clubes, deslocou-se ao Barreiro uma numerosa falange de apoio dos benfiquistas.
Os lisboetas, cientes do seu valor, e pensando que mais tarde ou mais cedo a partida se resolveria a seu favor, com maior ou menor dificuldade, iniciaram o jogo sem grandes pressas, pressionando o Barreirense que respondia com perigosos contra-ataques e jogadas individuais que não surtiam o efeito desejado. Estas tentativas foram esmorecendo e a equipa encarnada voltaria ao ataque, e a defesa barreirense atravessava um período difícil. O Benfica acabaria por alcançar o seu tento com 17 minutos jogados. Daí para a frente a equipa visitante foi sempre superior, com mais ocasiões de golo e jogando com uma maior tranquilidade. Mesmo assim, um grande remate de Faia e um desvio junto à baliza, de José Augusto, quase empatavam a partida.
Na segunda metade, o Barreirense demonstrou uma grande vontade de dar a volta ao jogo, e só o azar impediu que tal se verificasse, com aqueles dois jogadores a criarem o pânico na defesa benfiquista, mas sem conseguir materializar esse perigo. O jogo terminou assim com o Benfica a vencer por 1-0, aguardando-se o segundo jogo que se antevia de grandes dificuldades para o Barreirense.
Na segunda partida, em Lisboa, o Barreirense perdeu muito naturalmente por 4-0, saindo deste duplo confronto com a cabeça erguida, pois foi derrotado pelo principal candidato a vencer a Taça de Portugal depois da conquista do título.
Nesta prova os alvi-rubros venceram o Boavista, o Vianense e a Académica, tendo obtido 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, marcando 21 golos e sofrendo 13.
Faziam parte desta equipa Pinheiro, Abrantes, Silvino, Carlos Silva, Afonso, Duarte, Oñoro, Chico Correia, José Augusto, Faia e Madeira.
Curiosamente, na época seguinte, o Barreirense voltaria a chegar às meias-finais da Taça de Portugal e repetiria o confronto com o Benfica, tendo também sido eliminado nesta eliminatória.
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José Seixo
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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Glorioso FCB


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Aproxima-se a insigne efeméride da agremiação desportiva mais representativa do Barreiro: o Barreirense, com um B bem maiúsculo.
Agrupemo-nos em torno da sua bandeira. Muito iremos agradecer aos membros da Comissão Executiva das Comemorações (obviamente também aos Corpos Gerentes). As dificuldades não são poucas, mas eles irão esmerar-se.
Os tempos modernos trazem-nos um oceano de dificuldades. Sim, a razão principal reside em o Barreiro já não ser industrial.
Oh, a mística que lá vai. O honroso palmarés, os troféus que se acumulam no Salão de Honra... A agremiação que ao longo de quase um centenar de anos empreendeu tanto pelo "sport", pela nossa juventude. Os jovens de hoje acompanharão mais o Clube, como os "carolas" de antanho. A "forja" segue em frente. Façamos por recuperar algo da Glória. E procuremos viver as horas festivas.

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Felizardo da Cruz "Buraca"
Desejamos relembrar um adepto ido do Barreirense.
Quem? Decidimo-nos por Felizardo, que nos deixou para sempre há mais de três décadas.
"Doentes da bola" como ele foi, fazem cá falta. O "Buraca", modesto vendedor de peixe, como ele era ferrenho pelo F.C.B.! Nunca aprendeu a ler? E depois? Tinha um sistema próprio, que substituía letras e algarismos. E quando julgava necessário emprestava (ou cedia) dinheiros à Direcção do nosso Barreirensezinho, para ajudar a pagar prémios, ou passes de jogadores. Chegou a aparecer na Sede com tachos cheios de c´roas e algumas notas. E organizava viagens de autocarro para adeptos irem apoiar o Clube. Padecia durante os jogos. Deixava então o Campo do Rossio e ia para junto da muralha da praia. O sofrimento continuava. "Mas quantos há?".
Era um sócio de nível, expressava opiniões não radicais, médias, no seu "bonite camarre pure", com "enganos" de português à mistura.
Quem quiser saber hoje muito mais dos actos de "Buraca" em prol do Clube pode "visitá-lo" no Google, seja no Barreiro Velho, ou lá na Austrália. Não é preciso “passar” pelos www.vinculadosaobarreiro.com para lá chegar. Basta pedir "Felizardo Buraca"! Em dois / três segundos "chegamos" às suas feições na Internet. Logo de início lê-se por lá que ele era um "indefectível entusiasta".
Para este trecho quisemos escolher um grande dos velhos tempos do F.C. Barreirense.
Poderia ter sido um craque da bola, ou um dirigente notável. Mas decidimo-nos por Felizardo, que à sua maneira se mostrou tão valioso. Um exemplo para todos, para sempre...
Dos tempos em que tantos, tantos, lutavam, sofriam, pelo F.C. Barreirense.

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Carlos Silva Pais
Zurique / Suíça

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[texto inserido no jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
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Recordar e Viver (XVIII)


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O 1º título nacional de basquetebol
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Prestes a iniciar-se mais um campeonato da Liga, vamos relembrar um feito histórico do basquetebol do Barreirense.
Decorria a época de 1956/57 e, a uma jornada do fim, o Barreirense, ao vencer o Vasco da Gama por 94/42, garantia desde logo o título de Campeão Nacional, o primeiro na história do clube e de cujo feito os barreirenses bem se poderiam orgulhar. O Barreirense, recheado de excelentes jogadores, formava, sem sombra de qualquer dúvida, a melhor equipa nacional.
Estavam de parabéns, e em festa, o clube e os seus fiéis adeptos, para além, claro, os seus dirigentes, treinadores e jogadores.
A jornada de consagração, que se seria a última, realizou-se em S. João da Madeira, jogo que o Barreirense venceria por 80/57 e o qual teve que se repartir entre Sábado e Domingo, já que no primeiro dia o mesmo foi interrompido devido à falta de luz.
A equipa seria recebida no Salão Nobre dos Paços do Concelho, no que constituiu uma cerimónia muito simples, muita bonita e cheia de simbolismo. A sessão foi aberta pelo Vice-Presidente da Câmara, sr. Vítor Adragão, devido ao impedimento do presidente Eng. José Alfredo Garcia, que depois de “apresentar felicitações aos briosos atletas que tão galhardamente souberam conquistar o título máximo do basquetebol nacional”deu a palavra ao Vice-presidente do Barreirense Ulisses Ricardo da Silva e que, em breves palavras, carregadas de intenso amor clubista, fez o elogio dos novos campeões, realçando a circunstância de todos serem amadores, já que grande maioria das outras equipas eram constituídas por profissionais.
Este título constituiu, na verdade, um forte motivo de orgulho para o F. C. Barreirense e para o Barreiro, e o qual passaria a ser um belo cartaz de propaganda da modalidade e do desporto local.
Resta lembrar aqui os primeiro Campeões Nacionais seniores: José Valente, Albino Macedo, José (Zeca) Macedo, Eduardo Nunes, Manuel Clímaco, Narciso Ribeiro, Manuel Pereira, José Vicente, Manuel Ferreira (Nelito), Alfredo Guilherme, Sérgio Bravo, Armando Soeiro e Augusto Santos Rosa. Era treinador da equipa o Eng. José Godinho e médico o Dr. João Manuel Prates.
Vamos, a partir de agora, apoiar a equipa que vai disputar o Campeonato da Liga de Basquetebol, de ajudar a conseguirem-se novos êxitos.
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José Seixo
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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Recordar e Viver (XVII)



Repetição da repetição

Corria a época de 1971/1972 e no encerrar da primeira volta do Campeonato Nacional de Futebol da 1ª. Divisão, jogavam no Barreiro, num Domingo fortemente fustigado pela chuva, o F. C. Barreirense e a Académica de Coimbra. E foi precisamente debaixo dessa chuva torrencial que decorreu a primeira parte desse jogo e, no regresso do intervalo, a equipa de arbitragem vendo que o velhinho D. Manuel de Melo mais parecia uma gigantesca piscina, considerou que o terreno de jogo estava impraticável para a realização da segunda metade da partida, e esta foi interrompida com o resultado a saldar-se numa igualdade sem golos.
Veio a saber-se depois que nos balneários, equipa de arbitragem e responsáveis dos dois clubes tinham acordado que o jogo fosse repetido no dia seguinte, segunda-feira, à mesma hora (15.00 h), o que veio a acontecer, tendo o F. C. Barreirense vencido esse jogo por 3 a 1.
Depois, e a partir daí, começaram a movimentar-se os bastidores, e a Académica fez um protesto junto da Federação para que o jogo se voltasse a realizar, uma vez que alguns, poucos, dos seus jogadores, não tinham podido vir ao Barreiro jogar para não faltarem às aulas. Este foi o argumento apresentado pelos “estudantes”.
E este argumento foi ganhando força à medida que o Campeonato se aproximava do seu final e se via que a Académica precisava de vir ao Barreiro ganhar esse jogo para evitar a descida. O Barreirense estava à vontade nessa situação, e se o jogo se repetisse, e a Académica ganhasse, um destes três clubes desceria de divisão: Atlético, Leixões ou Beira-Mar.
E por incrível que pareça, o protesto foi deferido pelo Conselho Superior da Federação Portuguesa de Futebol que mandou repetir o que já tinha sido repetido, quando faltava uma jornada para terminar o Campeonato, isto é, antes do Barreirense ir jogar a última jornada, precisamente a Coimbra com a Académica.
Por aqui se vê os poderes que tinham os membros desse Conselho Superior para tomarem uma decisão daquelas, beneficiando claramente a Académica em detrimento de um dos três clubes atrás citados. Vergonhas de outros tempos. Ainda e sempre os famigerados bastidores dos corredores bolorentos do futebol português.
Os estudantes vieram em peso, numa quarta-feira soalheira, ao Barreiro, apoiar a sua Académica mas, no final, saíram a chorar do D. Manuel de Melo , pois a sua Académica perdeu o jogo com o Barreirense por 1 a 0 e desceu mesmo à II Divisão.
Registe-se que quem marcou esse golo foi o Câmpora, recentemente falecido.
A história está também contada em poesia e aqui vos deixo os respectivos versos.
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O PROTESTO
Foi num domingo de chuva
Que o árbitro interrompeu
O Barreirense - Académica
Que havia de ser repetido
E que tanto falar deu
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A história que eu vou contar
Contou-ma certo doutor
A Académica a protestar
O Barreirense a ganhar
Com o seu real valor

O Conselho Superior
Ao fazer a vigarice
Queria mandar o Atlético
O Leixões e o Beira-Mar
Todos juntos prá choldrice

Nessa grande quarta-feira
Tudo faltou ao trabalho
Pra assistir ao funeral
Para ir ver a matança
Académica no talho

Uma esperança que não finda
Uma fé que tudo vence
Um valor mais alto ainda
Nestas gargantas ansiosas
Um só nome Barreirense

Barreiro, Maio de 1972

José M. Guerreiro
(Oiã - Aveiro)
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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Recordar e Viver (XVI)


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A última Taça de Portugal
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A 19 de Maio de 1984, o Barreirense recebia no seu Ginásio-Sede, o Olivais de Coimbra, em jogo a contar para os quartos-de-final da Taça de Portugal, jogo este que foi dirigido pela dupla lisboeta Álvaro Martins e Joaquim Sentieiro. O Barreirense, demonstrando grande superioridade sobre o seu adversário, viria a vencer por uns esclarecedores 99/62, com 56/34, ficando deste modo apurado para a meia- final.
Em 25 de Maio do mesmo ano, o Barreirense recebeu a equipa do Queluz, num jogo que decidia um dos finalistas. Neste jogo, que foi dirigido pela dupla portuense Pedro Jorge e Célio Alves, o equilíbrio foi a nota dominante nos primeiros quinze minutos de jogo, chegando o intervalo com uma vantagem de 9 pontos a favor da equipa alvi-rubra (48/39). O Barreirense entrou muito bem na segunda parte, embalando para uma excelente exibição e, com apenas 5 minutos para se jogar, tinha já uma vantagem de 15 pontos, atingindo-se o final da partida com o resultado de 104/84 favorável à turma barreirense, o que garantia a presença desta equipa na Final. No entanto, e revelando mau perder, a turma da linha de Sintra protestou o jogo, alegando que o recinto não reunia as mínimas condições para a realização do jogo. Este protesto viria, surpreendentemente, ou talvez não, a ser considerado procedente por decisão da Direcção da Federação Portuguesa de Basquetebol. O Barreirense, como seria natural, apresentou o respectivo recurso para o Conselho Jurisdicional da F. P. B., que viria a repor a verdade desportiva, não confirmando as pretensões do Queluz. O Barreirense apurava-se assim para disputar a Final com o Sporting Conimbricense.
No entanto, e devido ao impasse criado pelo protesto, a Final só se veio a realizar em finais de Junho, impedindo assim a participação do americano Otto Jordan que teve que regressar aos Estados Unidos.
Mesmo assim, a turma barreirense viria a impor-se de forma categórica, vencendo o jogo por 109/76, com 54/36 ao intervalo. Foi uma jornada memorável e de grande fervor clubista, derivado do grande apoio que a equipa teve. Este jogo foi dirigido pela dupla lisboeta Rui Valente e José Nina e alinharam e marcaram: Barreirense - Paulo Correia (4), Grandela (2), Orlando Henriques, Artur Leiria (7), Jorge Ramos (6), Eugénio Silva (24), Mike Plowden (23), Joaquim Saiote (2), António Coelho (25) e Jorge Coelho (18); Conimbricense – Afonso (8), Cornell (10), Moreira (4), Vaan Zeller (6), Gassim (6), César (4), Agapito (8) e Rui Leitão (23).
Resta acrescentar que o treinador do Barreirense era o Prof. Manuel Fernandes, coadjuvado por Eduardo Quaresma.
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José Seixo

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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Em grande!


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Começo da época oficial. Futebolística. Dos graúdos.
6-0 ao Almada.
Longe do Barreiro. Mas com muitos Barreirenses.
Vamos sonhar?

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Bonita


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A peça escultórica alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense, concebida e produzida pela jovem e talentosa artista barreirense Ana Encarnação pode ser adquirida na Sede do Futebol Clube Barreirense ou encomendada através do endereço electrónico centenario.fcbarreirense@gmail.com.
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Tem o custo de 45 euros.
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Adquira ou encomenda uma ou mais peças.
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Dedicação e Esperança


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Quando em Outubro de 2009 fui convidado pela Comissão Administrativa do FC Barreirense a presidir à organização das Comemorações do Centenário, não tive qualquer dúvida ou hesitação na resposta. Foi, de entre as grandes decisões da minha vida, uma das mais céleres e mais fáceis.
Desde logo senti que iria abraçar um projecto muito estimulante. E percebi que o desafio poderia resultar num importante contributo para o fortalecimento e a reorganização do meu clube de sempre.
Para me acompanharem nesta missão convidei cinco destacados Barreirenses que comigo integram a Comissão Executiva. Plural nas suas mais diversas vertentes. Coesa. Ambiciosa.

“Olhar o passado. Conquistar o futuro. Unir os Barreirenses”.
Foi este o lema escolhido para o Centenário e que deu título ao Manifesto que divulgámos em Novembro de 2009.
Lembraremos os grandes momentos do passado. As datas e os protagonistas.
Ousaremos analisar o presente. E perspectivar o FC Barreirense das próximas décadas.
Lutaremos pelo reforço e aprofundamento da união entre todos os Barreirenses – porventura o nosso maior desafio.

A Comissão Executiva propõe-se concretizar um vasto conjunto de iniciativas de natureza editorial, desportiva, associativa, lúdica e cultural.
Contamos com a mais ampla participação dos nossos consócios. E, como escrevemos no Manifesto “O desafio está lançado. Os Barreirenses estão desde já convidados. A aderir, a colaborar, a participar. As portas estão abertas. Para todos”.
Estamos seguros da colaboração da Câmara Municipal do Barreiro e das oito Juntas de Freguesia.
Esperamos a mais fecunda interacção com os agentes económicos e culturais do concelho do Barreiro.

Será justamente no Ginásio-Sede que terão início as Comemorações do centenário do FC Barreirense. Porque entendemos que a nossa “casa-mãe” – construída de forma heróica e maravilhosa por centenas de associados e amigos do FCB – deve assumir, ao longo do ano do centenário, um papel chave, como palco privilegiado de encontros e reencontros, ideias e reflexões, prazeres e lazeres, jogos e torneios, memórias e evocações, lembranças e emoções, sonhos e antecipações.
Na noite de 9 de Abril próximo será dado o “pontapé de saída” para a celebração da vida e obra de um histórico do desporto português.
Tudo faremos para que os nossos consócios e as demais personalidades presentes sejam contemplados – e sujeitos activos (!) – de um evento recheado de alegria e de afectos.
A Festa vai ser bonita!

Estamos num momento de viragem, rumo a um FC Barreirense mais consistente no projecto, mais participado na decisão e na acção, administrativamente mais moderno, mais sedutor para os Barreirenses – e em particular para a sua juventude.
É por acreditarmos que podemos contribuir para o devir do FC Barreirense, que respondemos afirmativamente ao convite endereçado pela Comissão Administrativa do FC Barreirense, presidida pelo Dr. António Martins. É por estarmos convictos que é nos momentos difíceis que os desafios são mais importantes, decisivos e inadiáveis, que dissemos presente.
Procuraremos honrar a nossa condição de Barreirenses. A favor de um clube novo. Ao serviço do Desporto, da Cultura e do Associativismo. Ao serviço do Barreiro. Com os Barreirenses. Pelos Barreirenses.
Valem a pena a dedicação e a esperança? É claro que sim!

Paulo Calhau
Presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário do FC Barreirense
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[texto inserido no jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
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Recordar e Viver (XV)


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A grande obra
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É de capital importância e de grande influência na vida de uma colectividade uma sede com boas condições. Aqui residiu a grande luta dos dirigentes do Barreirense durante uma boa porção de anos.
Começando por se instalar no número 139 da Rua Conselheiro Serra e Moura, o Barreirense passaria depois por variados locais. Em 1932, quando o clube tinha a sua sede na Rua Aguiar, no número 150, foi feita a primeira tentativa oficial para a construção de uma sede própria. A Comissão para a construção deste objectivo era formada por Manuel da Silva Figueira, Raimundo José Maria, Artur Leal de Oliveira, Fernando Leonel Vasconcelos e José Maria Cardoso.
Em 1941, a Câmara Municipal do Barreiro punha em hasta pública um terreno situado junto ao parque da vila, com 1.512 m2, tendo-o adquirido por cinco escudos e dez centavos o m2, por arrematação efectuada por Albino José Macedo.
Em 1946 é eleita uma Comissão de Honra a que preside António Balseiro Fragata e da qual faziam ainda parte D. Lucete Lança Pereira, Luís Raimundo dos Santos, José Luís Pinto, Jacinto Belchior, António Pinto Silva, Hernâni dos Anjos Fernando, Raúl do Carmo Sequeira, Edgar da Costa Nunes, José dos Santos, José Domingos, João Batista dos Santos, Jesuíno de Sousa Matoso e João Pereira Gonçalves.
Manuel Nunes Machado foi o autor do projecto do edifício e no qual trabalhou arduamente durante dez meses sem cobrar qualquer verba ao clube. O assentamento da primeira pedra foi feito a 8 de Junho de 1947 e a obra estava avaliada inicialmente em 2.400 contos.
Coadjuvando a Comissão, e para além do citado autor do projecto, faziam parte os técnicos Luís Raimundo dos Santos, construtor civil e vice-presidente da Comissão, João da Luz, técnico da instalação de águas e aquecimento, eng. Luís Alberto Figueiredo do Vale, autor dos cálculos do cimento armado, eng. Leonardo de Carvalho, autor do projecto das asnas que cobrem o ginásio e Luís Carvalho da Costa e Jorge Feio, encarregados do projecto da montagem eléctrica. Também o arquitecto Fernando da Costa Belém teve acção valiosa na fase de acabamentos.
Passaram-se depois vários anos de trabalho constante e dedicação absoluta para a feitura da obra e para se arranjar dinheiro das mais variadas formas. O Barreirense recebeu comparticipações do Ministério das Obras Públicas (550 contos), do Ministério da Educação (80 contos), da Câmara Municipal do Barreiro (30 contos), do Governo Civil de Setúbal (15 contos), a ajuda da Companhia União Fabril através da oferta de toda a madeira exótica, além da autorização para que fossem executados vários trabalhos nas suas instalações fora das horas normais de trabalho.
A 14 de Maio de 1956, terminaria a existência da Grande Comissão para a 20 do mesmo mês se proceder à inauguração do belo edifício. De Lisboa vieram várias entidades, cujas delegações seriam precedidas do mais extenso cortejo de automóveis, motos, scooters e bicicletas a motor e a pedal que foi constituído em Coina e que até hoje atravessou o Barreiro.
Ficaram famosos os “comboios de pedra”, com camionetas sempre cedidas gratuitamente, bem como as Campanhas dos Mosaicos, das Telhas, dos Azulejos Decorativos com motivos desportivos (inéditos em Portugal e feitos exclusivamente para o Barreirense), a Feira das Chapas Lusalite e outras tantas realizações.
A inauguração terminou com uma grande Sessão Solene, na qual António Balseiro Fragata, cujo busto, oferecido pela autarquia, permanece no Salão Nobre do clube, agradeceu aos que tornaram possível a realização do grande empreendimento, entregando, por fim, as chaves do edifício ao presidente da Direcção, Armando da Silva Pais.
Estava assim concluída a Grande Obra, na altura avaliada em 4.000 contos, na qual se havia gasto, porém, 2.100 contos. A outra parte representava o valor do trabalho hercúleo dos braços generosos e dos materiais ofertados.
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José Seixo
(dados recolhidos do livro "Barreiro Contemporâneo" de Armando Silva Pais)
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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Recordar e Viver (XIV)


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Uma figura carismática

Francisco Barrenho é, sem sombra de dúvida, uma figura incontornável e um símbolo do Barreirense e da sua modalidade de eleição – o basquetebol.
No início da época de 2004/2005, aquando do magnífico espectáculo que constituiu a apresentação de todas as equipas do clube, num Ginásio lotado, e no qual estiveram ainda presentes representantes da Câmara Municipal do Barreiro, da Federação Portuguesa de Basquetebol, da Associação de Basquetebol de Setúbal, dos patrocinadores e de outras entidades, foi-lhe prestada uma singela mas justíssima homenagem, plena de significado, pela sua dedicação desinteressada ao clube e à “sua” Secção de Basquetebol”, tendo-lhe sido entregue pelo Director da Revista “Barreirense Basket” Paulo Calhau uma salva de prata assinalando o seu reconhecimento ao clube. Foi ainda atribuído o seu nome à sala onde passou grande parte da sua vida, passando a ser a “Sala Francisco Barrenho”.
Nascido a 23 de Maio de 1945, em Veiros (Estremoz), veio para o Barreiro com apenas 18 anos de idade, e depois de uma breve passagem pela Biblioteca e pela Comissão do Ginásio-Sede, passou a integrar a Secção de Basquetebol, onde permanece há cerca de 41 anos seguidos, durante os quais desempenhou as mais variadas funções e tendo trabalhado com a juventude de várias gerações e contribuído para a qualidade que a Formação do clube tem evidenciado ao longo dos anos, como o atestam os vários prémios atribuídos pela Federação Portuguesa de Basquetebol, como os troféus “Cremildo Pereira”, pela qualidade do trabalho desenvolvido pelo clube para a qual muito tem contribuído Francisco Barrenho.
São estes homens simples que com o seu trabalho e a sua dedicação engrandecem a história de uma colectividade, sendo o garante do seu futuro, constituindo-se como autênticos alicerces.
Bem hajas Xico pelo que tens dado aos jovens e ao clube do teu coração.
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José Seixo/Paulo Calhau
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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Recordar e Viver (XIII)


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As modalidades e o Barreirense
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Têm-se praticado, no Barreirense, ao longo dos anos, as mais diversas modalidades, sendo inclusivamente algumas delas desconhecidas da grande maioria das pessoas, pelo que, muito resumidamente, vamos aqui lembrá-las, com excepção do basquetebol e do futebol, as quais têm sido alvo de vários textos publicados nesta rubrica.
Andebol – não tem sido uma modalidade muito praticada no Barreiro, tendo sido o F. C. Barreirense o único clube do concelho que, em 1960, disputou oficialmente alguns torneios da Assoc. de Andebol de Sete de Setúbal.
Atletismo – em 1942, o Barreirense possuía uma excelente equipa de atletismo, tendo participado nos regionais da zona sul, nas categorias inferiores e conquistado vários títulos. Destacamos os feitos do atleta Manuel Fernandes (que viria a ser mais tarde atleta e treinador de basquetebol do clube) nos I Jogos Juvenis do Barreiro com a obtenção do record da prova no salto em altura.
Ciclismo – esta modalidade já se praticava no Barreiro antes mesmo do aparecimento dos clubes de futebol. Foi no entanto na década de 30 que este desporto teve o seu ponto mais alto, com o aparecimento de vários clubes entre os quais o F. C. Barreirense. António Carvalho, natural do Alvito, e ferroviário no Barreiro, participou em várias provas oficiais em representação do Barreirense, tendo sido depois treinador dos ciclistas do clube.
Ginástica – o F. C. Barreirense tem tido um papel importantíssimo nesta modalidade, onde milhares de jovens e menos jovens têm evoluído ao longo dos anos. A Ginástica teve no austríaco Hoffer um dos seus bons professores, no ano de 1932, que acabaria depois por ser treinador de futebol. Têem sido inúmeros os saraus de Ginástica organizados pelo clube tendo trazido centenas de clubes aos seus festivais, dos quais destacamos o Ginásio Clube Português, o Lisboa Ginásio Clube, o Ateneu Comercial de Lisboa, o Sporting Clube de Portugal e muitos outros de diversos pontos do país. Para além disto, vários atletas do clube têm participado em provas nacionais e internacionais com excelentes resultados.
Halterofilismo – o Barreirense iniciou esta prática em 1959, acabando por ter uma vida curta.
Hóquei em Campo – o Barreirense iniciou a sua actividade na modalidade graças ao dirigente Wanderley Louurenço, tendo a equipa feito a sua apresentação na festa do XIX Aniversário do clube, defrontando e perdendo por 5-1 com o Grupo Desportivo “Os Treze”, de Lisboa. Era treinador dos alvi-rubros J. Teixeira. Participou ainda nos Campeonatos de Lisboa nas épocas de 1930/31, 1931/32 e 1932/33. Em Abril de 1933, recebeu a visita do clube alemão Deutsche Hockey Verein Venis, no campo do Rossio.
O atleta mais representativo desta modalidade foi Álvaro Girão.
Hóquei em Patins – em Abril de 1943, o Barreirense inaugurou o seu “rink” de patinagem, ao qual deu o nome de Jacinto Nicola Covacich, no local onde, mais tarde, foi construído o Ginásio-Sede. O clube chegou a ter uma equipa própria que também teria vida curta.
Natação – modalidade com pouca expressão no clube. Ainda assim, em Outubro de 1928, numa prova promovida pelo Naval Barreirense, designada por “I Travessia do Barreiro a Nado”, Manuel Ramalhete Marinho seria o grande vencedor, em representação do Barreirense. Mais tarde, em 1946, Ricardo Abreu venceu a “VI Travessia do Barreiro a Nado”, repetindo o êxito no ano seguinte. E a natação ficaria por aqui.
Polo Aquático – em 1928 iniciou o Barreirense esta modalidade na Caldeira do Burnay, junto ao Matadouro Municipal, em Alburrica. Neste ano, o Barreirense disputou o principal torneio da Liga Portuguesa de Natação, voltando a disputá-lo no ano seguinte. Armindo Almeida, Manuel Marinho e João Ferreira foram os seus melhores jogadores.
Râguebi – o Barreirense foi o primeiro clube do concelho a praticar este jogo, participando no Campeonato da 2ª categoria da Assoc. de Râguebi de Lisboa. Em Novembro de 1930. Disputa no campo do Rossio um jogo particular com a forte equipa do Sporting Clube de Portugal para voltar a jogar com este mesmo clube uma semana depois em Lisboa, no Campo Grande.
Ténis de mesa – esta modalidade apareceu no clube em Março de 1944, disputando logo nesse ano o I Camp. Distrital, do qual seria campeão por equipas. Na altura faziam parte da equipa João Manuel Prates, que seria Campeão Nacional em 1947 e 1948, Carlos Gomes (que já era guarda-redes do Sporting) e Julio Durand. Entretanto, numa prova de apuramento do campeão local, num jogo disputado entre o Barreirense e o G. Desp. da CUF no Ginásio dos Ferroviários, houve diversos incidentes entre a assistência, o que levou os dirigentes à dissolução da modalidade.
Tiro – foi o primeiro clube a organizar, em 1930, uma Secção de Tiro, que não resultaria.
Voleibol – apareceu no clube em Dezembro de 1952, com uma equipa formada por Manuel Seixo, que era, ao mesmo tempo, treinador e jogador. Em Maio de 1953 venceria o Campeonato Regional, preparando-se para a disputa do Camp. Nac. Da II Divisão mas, a associação setubalense, já em fase de dissolução, não inscreveu a equipa na prova, levando à desmotivação e à dissolução da modalidade.
Xadrez – outra modalidade que tem alcançado numerosos êxitos, tanto nacionais como internacionais.
O Barreirense tem assim prestado, desde a sua fundação, um valioso contributo ao desporto nacional através das várias modalidades, proporcionando à juventude a prática salutar do desporto, desviando-a de caminhos menos correctos e tendo um papel decisivo na formação, para além de bons praticantes, de verdadeiros homens.
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José Seixo
(dados recolhidos do livro "Barreiro Contemporâneo" de Armando Silva Pais)
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[texto publicado no JORNAL DO BARREIRO na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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domingo, 26 de setembro de 2010

Optimismo


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O Optimismo é um instrumento necessário à sobrevivência
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O Basquetebol tem sido no Barreiro uma actividade desportiva determinante na vida de muitas gerações. O “nosso” Barreirense, com tradição quase secular no desenvolvimento da modalidade, tem contribuído para que esse interesse se mantenha.
Somos, no Basquetebol nacional, um nome conhecido, respeitado e até temido, pois as nossas equipas, independentemente do escalão etário, continuam a ser uma garantia de qualidade e de valor competitivo.
Sem negar ou fugir aos problemas que enfrentamos, cabe-nos a todos confiar que seremos capazes de os ultrapassar. É nos períodos difíceis que é particularmente importante mantermos a determinação e o alento. No entanto, esse alento deverá brotar da auto-confiança, da convicção de que somos capazes, por nós próprios, de tomar as decisões mais adequadas em cada momento.
O valor de qualquer actividade e o investimento que nela é feito dependem da qualidade que lhe é reconhecida, do apreço e procura que ela suscita e, com certeza, das necessidades que satisfaz.
O capital de experiência que adquirimos durante os muitos anos em que o Basquetebol tem feito parte da vida do nosso clube, bem como os sucessos desportivos que já alcançámos, obrigam-nos a olhar em frente e a decidir qual o rumo que pretendemos seguir.
Temos que definir tarefas e regras de vida colectiva, conquistando a adesão a um compromisso de todos.
As realidades que vivemos têm que comportar a mudança de ideias, pensamentos e mesmo de actos. Impõe-se incutir nos mais novos o valor do nosso emblema e moldá-los ao conceito, para assim continuarmos a conquistar gerações.
É necessário construir o futuro com confiança e motivação. Temos tudo o que precisamos para isso, juntemos-lhe a convicção de que urge fazê-lo e a determinação para o levar em frente.
Unam-se os BARREIRENSES!
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Francisco Cabrita
[Membro da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário]

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[texto inserido no jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
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Recordar e Viver (XII)



Para o Barreiro de… traineira

Um ano antes da retirada de Bráulio, Paulino tinha-lhe disputado e conquistado a titularidade, e foi com a contribuição deste igualmente valoroso guarda-redes que, em 2 de Maio de 1965, assisti a uma das páginas mais belas e notáveis da nossa longa história.
Sem conhecer o sabor da derrota há doze jogos, o FCB recebia o Olhanense, no culminar do Campeonato Nacional da II Divisão - Zona Sul, temporada de 1964/1965. Com menos dois pontos que o adversário e derrotado na primeira volta no Campo Padinha por 2-1, o FCB tinha de vencer por dois golos para se sagrar campeão de zona e ascender automaticamente à I Divisão.
Na véspera da partida, A Bola dedicou-lhe uma grande reportagem nas páginas 1, 3 e 6, reveladora da expectativa que o desafio despertara no futebol português. Albino Macedo, Presidente do FCB, e o treinador espanhol Oñoro manifestaram então grande optimismo. E com toda a razão!
Apesar de muito apoiada por uma multidão de Olhanenses, que se deslocaram ao Barreiro por comboio, autocarros, carros particulares e até de traineira (!), a equipa algarvia – considerada favorita por muitos observadores – foi impotente para travar um FCB demolidor. Garrido, Vicente e Ludovico decidiram a partida com três golos sem resposta, que asseguraram a nossa subida à divisão maior.
Viveram-se momentos que jamais esquecerei. Quando do terceiro golo, Leonel Gomes, possuído por uma emoção arrebatadora, saltou para o degrau inferior da bancada central e… aterrou nos meus ombros!
No final, uma imensa multidão de Barreirenses, maioritária nos 15.000 espectadores presentes, comemorou a vitória com muito fervor. Os catorze jogadores, além do júbilo da subida de divisão, levaram para casa um prémio de 1.500 escudos [75 euros], a que tiveram igualmente direito o treinador e o massagista.
No dia seguinte, Carlos Pinhão titulava em A Bola: “Golpe de teatro na zona sul. O Barreirense ganhou a I divisão… ao sprint”.
O FCB iria marcar presença, pela 17ª vez, no Campeonato Nacional da I Divisão.

Paulo Calhau

[Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – Estórias e Memórias do meu Barreirense e publicado no JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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Recordar e Viver (XI)


De barco… para Lisboa

Tinha 8 anos quando, a 2 de Novembro de 1965, visitei pela primeira vez o Estádio do Sport Lisboa e Benfica, vulgarmente conhecido por Estádio da Luz. Na companhia de meu pai e de alguns seus amigos, atravessámos o Tejo, numa bonita tarde de domingo. Recordo-me do deslumbramento à chegada ao estádio, belo e majestoso. Mesmo com o terceiro anel ainda incompleto – obra que veio a ser concretizada na presidência de Fernando Martins – era já o maior estádio português.
Cerca de 30.000 espectadores presenciaram um jogo muito assimétrico em todas as suas vertentes: técnica, táctica e física. Não se verificava nesse tempo, o equilíbrio que hoje existe em termos de condições de trabalho, metodologia de treino, cuidados médicos. Os resultados desnivelados eram frequentes. E a nossa derrota (8-2) nessa jornada foi disso um (mau) exemplo.
Com Coluna, Simões e José Augusto, mas sem Eusébio, o Benfica de Bela Guttmann desbaratou a nossa linha defensiva onde na esquerda despontava Adolfo, futura aquisição das ‘águias’.
Na baliza do FCB, Bráulio cumpria a nona e última época ao seu serviço. E em 1 de Novembro de 1966, foi merecedor de uma justíssima homenagem, que decorreu no Campo D. Manuel de Mello. Amora, Oriental, CUF e FCB, quatro dos seis clubes que representou na sua carreira, associaram-se à festa, simples mas de enorme significado. Recordo-me que, alguns dias antes, na sala da Direcção, alguns Directores do FCB, entre os quais o meu pai, interrogavam-se acerca da prenda a oferecer a Bráulio. No cofre, enorme, escassos contos de réis como que se perdiam na sua imensidão. A conta bancária também era exígua. Estávamos, como quase sempre, financeiramente muito depauperados. A dificuldade resolveu-se com a oferta de um emblema de ouro do clube e eu, menino de 9 anos, tive a incumbência de entregar ao valoroso guardião uma caixa com três garrafas. Perdão: duas garrafas; já que uma das delas se partira até chegar ao relvado, onde decorreu a entrega de lembranças. Durante algum tempo, muito os amigos de meu pai se ‘meteram’ comigo, perguntando pela garrafa desaparecida…

Paulo Calhau

[Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – Estórias e Memórias do meu Barreirense e publicado no JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]

Recordar e Viver (X)


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Carnaval em Torres

A cidade de Torres Vedras preparava já afincadamente o seu tradicional e afamado Carnaval, quando o FCB aí se deslocou para defrontar o Sport Club União Torreense.
Sob a orientação técnica de Luís Mira, almejávamos o regresso à I Divisão, objectivo que veio a ser alcançado pelo Estoril, treinado pelo polémico e carismático António Medeiros.
Abrantes, guardião titular da nossa baliza, era mais que um simples futebolista. Dirigente do Sindicato de Jogadores de Futebol, era à data um cidadão com um conjunto de preocupações em relação à sua classe, que o distinguiam pela positiva de grande parte dos seus pares. A maioria dos atletas da equipa profissional do FCB tinha uma escolaridade que não ultrapassava o 4º ano [antiga 4ª classe]. Com a colaboração de José Barbado, ilustre Barreirense e co-proprietário com Hélder Fráguas do Colégio Moderno do Barreiro, Abrantes estimulou, ajudou a conceber e a concretizar uma experiência inédita. Com efeito, mobilizou-se um conjunto de boas vontades e, o Colégio Moderno foi palco da frequência do primeiro ciclo por cerca de quinze futebolistas.
Concluído o curso liceal em 1974, inscrevera-me na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, para cumprir um sonho e desejo de criança: ser médico. Mas, na sequência da Revolução dos Cravos, a minha frequência universitária foi protelada, para cumprimento de um ano do chamado Serviço Cívico, imposto pelas autoridades educaticas governamentais. Os portugueses, depois de 48 anos de ditadura, estavam sedentos de participação cívica, mergulhados numa multiplicidade de organismos populares recém-criados, e (ainda) muito iludidos pela perspectiva de construção de uma pátria mais justa e mais próspera. Também eu aderi a causas belas e generosas.
Convidado por José Barbado – amigo de longa data de meu pai, e progenitor da Manuela Barbado, uma das maiores amigas da minha irmã – aceitei prontamente o desafio, e leccionei a disciplina de Ciências Naturais. E integrei o corpo docente, com José Barbado e os meus ex-companheiros de liceu, e ainda hoje grandes amigos, Eduardo Silva, João Mário Viana, José Manuel Sousa e Manuel Pedro.
A disponibilidade inicial da maior parte dos quinze atletas rapidamente se desvaneceu, mas três deles – José João, Serra e Carlos Mira – vieram a concluir nesse ano lectivo o primeiro ciclo liceal.
Foi, para todos nós, uma experiência inolvidável.
Para além da actividade docente acompanhámos a equipa em alguns jogos forasteiros. E fomos particularmente estimados por todo o grupo. Nesse domingo de 2 de Fevereiro de 1975, deslocámo-nos então a Torres Vedras, onde uma exibição portentosa do avançado Charouco abriu as portas a uma vitória do FCB (4-2). No final do jogo, numa manifestação sublime de fair play, os dirigentes do Torreense brindaram a comitiva Barreirense com uma magnífico churrasco, para o qual nós, os professores, fomos gentilmente convidados. Grande dia! Grande vitória! Grande lição de vida!
Em 2007, passados vinte e dois anos, voltei a Torres Vedras, ao Campo Manuel Marques. Para ver o FCB empatar e comprometer a permanência na II Divisão (terceiro escalão nacional). Destino que veio infelizmente a confirmar-se, poucas semanas depois.

Paulo Calhau
[Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – Estórias e Memórias do meu Barreirense e publicado no JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]
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