quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Futebol do meu Barreirense

Desde que me lembro de existir que na minha casa ouvia o meu pai falar no nosso Clube, viver intensamente as suas vitórias e sofrer com as suas derrotas. O Futebol e o Basquetebol tornaram-se uma paixão que me foi passada a mim e aos meus irmãos.
Sócio desde que nasci, lembro-me de acordar ao domingo ansioso para que chegasse as 15h e assistir ao vivo ao jogo da nossa equipa senior, ou ficar colado ao rádio ouvindo o desenrolar do marcador. Era a adrenalina dominical que julgo ser comum a qualquer ferveroso adepto de qualquer clube.
E foi com imensa surpresa que em 1980 fui convidado para seccionista da nossa equipa de futebol júnior pelo Sr. Simões Pereira. Foi um ano em que aprendi muito. Principalmente criando em mim a ideia que o nosso futebol só poderia sobreviver formando jogadores nas nossas escolas e fazê-los progredir até chegar à equipa senior. As dificuldades eram muitas, tanto financeiramente como ao nível de infraestruturas. Não havia campos para treinar e os nossos jovens treinavam-se em baldios e às escuras. Tínhamos nesse ano uma boa equipa de juniores que militava nos distritais mas que não subiu ao campeonato nacional. Faltava tudo e, principalmente, uma estrutura de futebol jovem que incutisse disciplina.
Contudo em Fevereiro de 1982 fui convidado a assumir a chefia do Departamento de Futebol Juvenil do FCB. Tinha 22 anos e estava a terminar o curso de medicina. Perguntei ao meu pai o que achava do convite e ele respondeu-me “vai em frente”.
Criou-se um departamento composto por Barreirenses da minha total confiança, sabendo que estariam sempre comigo. Que grandes dirigentes foram o Luís Mestre, o Domingos Costa, o Vitor Ribeiro, o Alberto Palma, o Quim João, o Garibaldi (o massagista-dirigente) e outros que apareceram depois e muito aprenderam com estes. Em conjunto pensámos quem seriam os treinadores a contactar. A responsabilidade era muita. Ouvi todos e decidi. O Bandeira foi a minha escolha. E porquê? Porque era e é um grande Barreirense, tendo sido um grande jogador do clube, mas tinha uma característica que todos me diziam ter e que achava muito importante: era um disciplinador. Desde dessa altura até Janeiro de 1995 (altura em que saí) foi sempre este o “meu” treinador, grande formador de jogadores, imensamente competente, grande disciplinador e de uma lealdade a toda a prova. Claro que para completar a equipa técnica fomos buscar outros treinadores, o Luís Vasques, o José Toureiro, o Serra, o Orlando, o David, o Palheira, entre outros. Mas sempre com o Bandeira a coordenar.
Juniores, juvenis, iniciados e escolas (que iniciámos em 1984) passaram a ser frequentadores assíduos das fases finais dos nacionais, o que era a primeira condição, para inúmeros jovens, que os nossos treinadores referenciavam, imediatamente quererem vir para o nosso clube. E com esta estrutura amiga, unida e Barreirense de alma e coração, onde cada um sabia o que tinha que fazer, passámos a ser frequentemente falados nos jornais pelos nossos êxitos. E, principalmente, a nossa equipa de seniores anualmente recebia vários jogadores oriundos das nossas escolas. Os sócios acorriam em grande número aos jogos e as ajudas iam-se sucedendo. A união de todo futebol era um dado incontestável, o relacionado entre as equipas técnicas dos seniores e do escalão de formação eram excelentes. Isso muito ajudou os nossos objetivos.
Saí em 1995 com uma estrutura formada, mas acima de tudo com uma convicção – o caminho a seguir só poderia ser aquele. Criar condições aos jovens, com a melhoria das infraestruturas desportivas para treinar e jogar era e terá que continuar a ser sempre o objetivo principal do clube (do terreno baldio para treinar em 1982 passámos a ter até 1995 o Campo da Verderena com iluminação e o Campo D. Manuel de Melo sempre que possível). Claro que aliado à melhora das condições desportivas, a estrutura directiva e técnica complementavam-se numa só. Remando todos para o mesmo lado. O do Barreirense.
Todos aqueles que trabalharam no Barreirense enquanto lá estive deram, sem excepção, muito de si ao nosso Clube. Pode-se concordar ou não do caminho que traçámos, mas trabalhámos todos desinteressadamente para o Barreirense. Reconheço que tenho saudades e alguma nostalgia desse tempo. Várias vezes desde 1995 fui convidado para regressar à formação. Mas tenho um lema de vida – “nunca mais voltar onde fui feliz”. Tive agora, de outra forma, a possibilidade de colaborar com o meu Clube ao aceitar ser membro da Comissão Executiva do Centenário do FCB. Só mesmo o Zé Paulo Calhau me convenceria. E ainda bem que o fez pois reencontrei grandes Barreirenses ausentes há muito e que, fruto de um dos grandes objetivos desta Comissão, têm vindo a regressar.

João Paulo Prates
Membro da Comissão Executiva do Centenário

[texto inserido no jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
.