segunda-feira, 26 de abril de 2010

Um pavilhão, mais quadros e … mais recursos

No panorama do Basquetebol português, as duas últimas décadas de vida do FC Barreirense podem ser consideradas como um marco considerável nestes seus quase 100 anos de existência. Antes, outros pontos altos e brilhantes páginas se haviam inscrito nas nossas memórias. Mas os últimos 20 anos acrescentaram à consistência e regularidade dos diversos resultados alcançados pela formação de jogadores, o enorme respeito com que o país do Basquetebol se habituou a ver o FC Barreirense. Quem viaja de Norte a Sul bem sabe e sente o prestígio de pertencer a uma família que é notada pelo seu empenho, dedicação e exigência para com o Basquetebol que promove.
Um futuro mais próspero constrói-se sobre memórias sólidas e recordações relevantes. Mas a tormenta dos tempos que correm não deixa de nos colocar algumas importantes questões: poderão os próximos anos seguir o mesmo trilho dos primeiros 100, em particular dos últimos 20, mas com uma maior e legítima ambição? Será possível continuar a inscrever na história do FC Barreirense recordações e memórias do Basquetebol, que no futuro se possam considerar do nosso agrado colectivo? As perguntas são fáceis de colocar. As respostas não parecem simples nem directas.
Arrisco ao afirmar que muito provavelmente o FC Barreirense nunca ousou em mudar. Fundou-se, ergueu-se e continua a subsistir com base na generosidade e empenho daqueles que entendem que pertencer à família Barreirense é acima de tudo um dever que têm para com a cidade em que nasceram. Porém, não tenho a certeza se o futuro permitirá conciliar a possibilidade de feitos relevantes e a “apenas” enorme generosidade e empenho daqueles que tanto simpatizam pelo FC Barreirense. Não me desagradava que assim fosse. Mas sinto que o futuro exige algo mais. E o projecto Basquetebol do FC Barreirense também o parece exigir.
O futuro de médio prazo traz consigo a presença de três desafios que devem orientar o rumo do Basquetebol do FC Barreirense. Um primeiro, a necessidade de usufruir de um pavilhão próprio e adaptado aos tempos actuais. O Ginásio-Sede já cumpriu (e bem) a sua função. Mas é preciso mais espaço, o apoio de salas de musculação mais adaptadas ao desenvolvimento dos praticantes e uma infra-estrutura que centralize jogadores, treinadores, dirigentes e adeptos. Esta necessidade é acima de tudo uma exigência que deveria ser feita por todos aqueles que gostam e querem ver o Basquetebol do Barreirense de volta à Cidade. Mas é simultaneamente um apelo aos que possam ter capacidade de influência política, económica e social para tornar este sonho possível. Um segundo desafio prende-se com a consciência de que as carências têm que ser solucionadas com quadros técnicos especializados para as resolver. Desde as idades mais jovens até ao alto nível, existem hoje e existirão sempre, um conjunto de necessidades que só a competência de especialistas nesses diversos domínios poderão dar contributos consistentes. Refiro-me ao apoio social e psicológico aos jovens jogadores, ao seu acompanhamento desportivo e clínico, mas também a um maior estímulo à formação dos treinadores no sentido de se promover um enquadramento cada vez mais sólido da vida desportiva dos nossos talentos. Por último, a tentativa para formar parcerias financeiras que hoje não são dispensáveis aos projectos desportivos de sucesso. Estas só existem se de facto existirem retornos visíveis às partes que se enlaçam, pelo que o FC Barreirense deve organizar-se estrategicamente de forma a pensar qual o produto que verdadeiramente quer “vender” e como deverá gerir a sua visibilidade externa.
O tempo em que o FC Barreirense se fundou não é mais o mesmo. Após o seu Centenário o FC Barreirense convive com uma sociedade cada vez mais especializada nos seus saberes, exigente nos seus produtos e apenas capaz de se unir por grandes causas. Para que o FC Barreirense consiga formar e reunir os melhores, exigir de si próprio uma qualidade sempre maior e ser capaz de fazer voltar a Cidade ao Basquetebol – como noutros tempos idos –, as forças vivas do clube devem necessariamente criar as sinergias necessárias para congregar estas três virtudes: a existência de um espaço próprio – pavilhão, recrutar e formar os melhores quadros e ainda dispor de recursos, onde sem lirismos, os financeiros não deixam de ser relevantes, mas que todos sabemos, os mais difíceis de angariar.
Num tempo em que o tempo parece andar mais depressa do que a nossa própria capacidade para nele intervir, o futuro do Basquetebol do FC Barreirense deixaria muito por recordar nos séculos de vida que todos desejamos que tenha pela sua frente. Porque neste grande clube a nossa ambição colectiva, com a racionalidade necessária, não pode ter limites.

António Paulo Ferreira
Treinador e Coordenador-Técnico de Basquetebol do FC Barreirense

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[texto inserido no jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
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