segunda-feira, 21 de junho de 2010

Recordar e Viver (VII)


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Espoliado
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Decorria a época de 1982/83 e o Barreirense disputava o Campeonato Nacional da I Divisão com uma das mais poderosas equipas de sempre. Na 2ª Fase da competição, a partir da qual se verificou o regresso de Adilson Nascimento e se estreou o internacional brasileiro Marcelo Vido, o Barreirense apenas perdeu um jogo, na Luz, tendo passeado a sua classe de uma forma bastante concludente. Nesta fase ficaram apuradas as quatro equipas que iriam disputar a Final Four, a duas voltas, no Pavilhão das Antas, no Porto e que foram o Barreirense, o Benfica, o Queluz e o Porto .

Na primeira volta desta Final Four, na qual o Barreirense não esteve nada bem, os resultados foram os seguintes; 1ª jornada- Benfica x Barreirense, 65/86 e Porto x Queluz, 81/70. 2ª jornada- Barreirense x Queluz, 95/97 e Porto x Benfica, 89/80. 3ª jornada – Porto x Barreirense, 61/52 e Benfica x Queluz, 87/82. O título parecia que fugir aos alvi-rubros. Na segunda volta foram os seguintes os desfechos: 1ª jornada- Barreirense x Benfica, 72/69 e Porto x Queluz,91/72. 2ª jornada- Barreirense x Queluz, 85/78 e Benfica x Porto, 77/70. Face a estes resultados, o Barreirense, para ser campeão, teria que vencer o Porto por 10 pontos. Criou-se, à volta deste jogo, um clima de intimidação, dirigido por um grupo perfeitamente organizado, para com a equipa barreirense e dos seus adeptos e, mesmo antes do jogo se iniciar, começaram as provocações tanto a uma como a outros. No entanto, o Barreirense começou bem o jogo, que estava ser televisionado, e chegou a 8-0 e 10-2, sobressaindo a extrema serenidade de Adilson, fruto da sua grande experiência e da sua enorme qualidade como jogador. O jogo continuou muito equilibrado e atingiu-se o intervalo com a vantagem mínima para a turma alvi-rubra (29/28). Na segunda parte, e após 29 segundos do seu reinício, o Barreirense decidiu abandonar o campo. A chuva de líquidos, entre os quais urina (!) e outros variados objectos eram atirados impiedosamente para o banco do Barreirense, impedindo que a equipa tivesse a serenidade suficiente e vivendo-se um autêntico clima de terror, situação esta que se estendia aos adeptos do clube, acompanhantes e familiares dos jogadores. Tudo isto se passava com a absoluta indiferença da dupla de arbitragem, constituída por José Araújo e Álvaro Martins, que não teve a coragem para considerar que não não haviam as mínimas condições para a realização de um jogo de basquetebol, dos dirigentes federativos e do próprio F. C. Porto presentes e das autoridades, impedindo assim o Barreirense de lutar, dentro de campo, pelo título. Face a todo este cenário, os responsáveis do Barreirense decidiram-se pelo abandono do campo de jogo, após o que os dirigentes da Federação Portuguesa de Basquetebol decidiram, de imediato, atribuir o título ao F. C. Porto, sem que tivessem tentado sequer modificar este autêntico estado de sítio que se vivia dentro e fora do campo.
Na semana seguinte o Barreirense promoveu uma conferência de imprensa, à qual se associou o Benfica, o Queluz, a Câmara Municipal do Barreiro e a Associação de Basquetebol de Setúbal. Pelo clube estiveram o dirigente Luís Xavier e os treinadores Manuel Fernandes e Eduardo Quaresma, tendo sido relatados exaustivamente todos os acontecimentos verificados.
Resta apenas lembrar que a equipa era constituída por Eugénio Silva, Mike Plowden, Adilson Nascimento, Marcelo Vido, António Coelho, José Carlos Coelho, Jorge Ramos, Orlando Hemriques, Pedro Afonso, Batista, Joaquim Saiote, João Moura, Sebastião e António Minhava. Os treinadores eram Manuel Fernandes e Eduardo Quaresma e os dirigentes Luís Xavier e Francisco José (Xico Zé).
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José Seixo
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(Texto publicado no JORNAL DO BARREIRO de 18 de Junho de 2010, coluna Recordar e Viver)
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