sábado, 1 de maio de 2010

Uma aposta na Formação


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O Futebol Clube Barreirense em breve iniciará o seu ano de Centenário, um ano que obrigatoriamente será também o princípio da recuperação da grave crise que atormenta o seu futebol desde a venda do Campo D. Manuel de Mello.
Sobre este assunto, há dias também tive a oportunidade de ler no "Notícias do Barreiro" uma excelente entrevista do senhor Presidente da Comissão Administrativa do Barreirense, em que, entre várias análises sobre a vida actual do clube, dizia que ao futebol só lhe restava recorrer à formação.
Sinceramente acho muito bem que assim seja, aliás durante imenso tempo o Barreiro foi o grande fornecedor de excelentes jogadores para o futebol nacional, mas atenção que os tempos hoje são outros e a actual formação poderá ser insuficiente para resolver os problemas da equipa.
Aliás, esta situação no futebol do Barreirense faz-me recordar as vezes em que fui chamado para treinador da sua equipa, quase sempre para resolver problemas difíceis e da última vez (1985/86) a crise era bem visível, com uma possível descida à 3ª. Divisão Nacional. Nesse ano o problema resolveu-se praticamente com jogadores da formação do Clube, jovens de grande futuro com destaque para Jorge Ferreira, David Nascimento, Gil, Tó Manel, Sérgio Dias e outros, mas atenção que, nesse tempo existiam recintos para trabalhar, tornando forte essa formação.
Claro que, a formação realmente existe, até aumentou consideravelmente em número de praticantes, mas a qualidade do ensino perdeu-se um pouco e para além disso perderam-se também os espaços para treinar.
O jogador de futebol, quer queiram quer não, faz-se jogando, é a jogar que ele aprende e durante essa fase para evoluir necessita de apoio e esse apoio deverá ser transmitido por quem sabe de futebol, alguém que o tenha praticado, sem regras e métodos de treino que lhe retirem a capacidade imaginativa e criativa da sua idade.
Antigamente havia espaços para jogar e a primeira fase do futebol fazia-se na rua jogando durante horas seguidas, correndo com ou sem bola, procurando defender e atacar segundo a imaginação de cada praticante, sem interferências negativas, criando cada um uma forma de jogar, em harmonia com a sua habilidade e assim se desenvolvia a sua personalidade, sem interferências danosas.
Hoje a escola existe mas organizada num sentido mais comercial, só entra nela quem pode pagar a mensalidade que a escola exige, e a grande maioria das crianças não tem dinheiro para pagar essa mensalidade, perdendo-se talvez por isso os melhores futebolistas.
Todos sabemos que os jovens de hoje não são mais os jovens de outros tempos, são mais desenvolvidos, têm novas motivações e aspirações, mas isso não impede que se aproxime à escola de hoje o futebol de rua que se praticava ontem, basta que se aumente o número de horas de jogo no treino de iniciação e pré-preparação, acabando com esses joguinhos e brincadeiras sem bola que nessas idades a nada conduzem os praticantes.
Parece-nos portanto ser necessário recuperar os locais próprios para fazer formação e esse será o grande trabalho do actual Futebol Clube Barreirense.
Os mini-recintos são óptimos para um trabalho até aos 12 anos, mas depois dessa idade torna-se necessário trabalhar em recintos normais para que o jovem tome conhecimento dos princípios fundamentais do jogo.
O Futebol Clube Barreirense, em minha opinião, está a pagar bem caro o erro cometido por aqueles que venderam o Campo D. Manuel de Mello sem que primeiro tivessem um campo para o substituir.
Com trabalho e boa vontade estou convencido que o futebol do Barreirense voltará à normalidade, muito embora isso lhe vá custar algum tempo, tal como está a acontecer a outros clubes portugueses que durante anos militaram nas principais divisões do futebol português.
É caso para dizer, para a frente Barreirense, estás no bom caminho...

Manuel de Oliveira
Treinador de Futebol
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[Texto inserido no Jornal O BARREIRENSE - edição comemorativa do 99º aniversário]
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