domingo, 26 de setembro de 2010

Recordar e Viver (XI)


De barco… para Lisboa

Tinha 8 anos quando, a 2 de Novembro de 1965, visitei pela primeira vez o Estádio do Sport Lisboa e Benfica, vulgarmente conhecido por Estádio da Luz. Na companhia de meu pai e de alguns seus amigos, atravessámos o Tejo, numa bonita tarde de domingo. Recordo-me do deslumbramento à chegada ao estádio, belo e majestoso. Mesmo com o terceiro anel ainda incompleto – obra que veio a ser concretizada na presidência de Fernando Martins – era já o maior estádio português.
Cerca de 30.000 espectadores presenciaram um jogo muito assimétrico em todas as suas vertentes: técnica, táctica e física. Não se verificava nesse tempo, o equilíbrio que hoje existe em termos de condições de trabalho, metodologia de treino, cuidados médicos. Os resultados desnivelados eram frequentes. E a nossa derrota (8-2) nessa jornada foi disso um (mau) exemplo.
Com Coluna, Simões e José Augusto, mas sem Eusébio, o Benfica de Bela Guttmann desbaratou a nossa linha defensiva onde na esquerda despontava Adolfo, futura aquisição das ‘águias’.
Na baliza do FCB, Bráulio cumpria a nona e última época ao seu serviço. E em 1 de Novembro de 1966, foi merecedor de uma justíssima homenagem, que decorreu no Campo D. Manuel de Mello. Amora, Oriental, CUF e FCB, quatro dos seis clubes que representou na sua carreira, associaram-se à festa, simples mas de enorme significado. Recordo-me que, alguns dias antes, na sala da Direcção, alguns Directores do FCB, entre os quais o meu pai, interrogavam-se acerca da prenda a oferecer a Bráulio. No cofre, enorme, escassos contos de réis como que se perdiam na sua imensidão. A conta bancária também era exígua. Estávamos, como quase sempre, financeiramente muito depauperados. A dificuldade resolveu-se com a oferta de um emblema de ouro do clube e eu, menino de 9 anos, tive a incumbência de entregar ao valoroso guardião uma caixa com três garrafas. Perdão: duas garrafas; já que uma das delas se partira até chegar ao relvado, onde decorreu a entrega de lembranças. Durante algum tempo, muito os amigos de meu pai se ‘meteram’ comigo, perguntando pela garrafa desaparecida…

Paulo Calhau

[Texto inserido no meu livro PROVA DeVIDA – Estórias e Memórias do meu Barreirense e publicado no JORNAL DO BARREIRO, na série RECORDAR E VIVER, alusiva ao Centenário do Futebol Clube Barreirense]